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Europa e a herança romana


Europa e a Herança Romana

A constituição da consciência europeia tem raízes profundas nas civilizações anteriores, das quais herdou diversos aspectos que moldaram a identidade deste continente. Essa consciência surge a partir de uma lógica de continuidade e transformação, onde a geografia desempenha um papel fundamental. A diversidade geográfica da Europa, com solos férteis e relevo variado, possibilitou o cultivo de cereais nas extensas planícies, especialmente durante a Idade Média, favorecendo o desenvolvimento agrícola.

As florestas europeias também foram de grande importância, oferecendo recursos como madeira, caça, mel e alimentos derivados da criação de porcos, que frequentemente se misturavam com javalis. Esse uso diversificado das florestas conferiu à Europa um diferencial significativo em termos de recursos naturais. Além disso, o mar, com suas longas e extensas costas, foi um elemento crucial, apesar do temor inicial que os homens e mulheres da Idade Média tinham dele. Inovações tecnológicas, como o leme de roda de popa e a bússola, trazida da China, permitiram que superassem esses medos e navegassem com mais segurança.

Para entender melhor o nome Europa, devemos recorrer ao mito. O termo "Europa" tem origem em uma palavra semítica que designava o pôr-do-sol para os marinheiros. Segundo a mitologia, Europa era filha de Agenor, rei fenício, no território que hoje corresponde ao Líbano. O mito relata que Zeus, o rei dos deuses gregos, apaixonou-se por Europa, transformou-se em um touro e a raptou, levando-a para Creta. Dessa união nasceu Minos, o rei civilizador.

Os gregos deixaram uma herança dupla para os europeus: a oposição ao Oriente e a democracia. Esta oposição tornou-se mais evidente durante a Idade Média, com a distinção entre os gregos e latinos, reforçada pelas diferenças entre o cristianismo romano e ortodoxo. A escassez de informações sobre o Oriente levou o Ocidente a criar imagens ambíguas, associando-o tanto a grandes epidemias quanto a heresias. Contudo, o Oriente também era visto como um lugar de maravilhas e belezas incomparáveis.

Além do Império Bizantino, surge um Oriente mais real e ameaçador na Idade Média: o mundo muçulmano, que derrubou os bizantinos no século XV e os substituiu. Este novo Oriente teve um impacto significativo na Europa, tanto cultural quanto militarmente.

Outro legado crucial da Roma antiga foi a língua latina. O latim serviu como a língua franca da Europa, especialmente nas universidades, na Igreja, na teologia, e no vocabulário científico e filosófico. A dualidade entre urbanização e ruralidade foi marcante na Idade Média, com a Europa se ruralizando inicialmente para depois se urbanizar novamente.

O direito medieval também deve muito aos romanos. A primeira universidade de Bolonha, fundada no século XII, tornou-se renomada pelo ensino do direito, evidenciando a continuidade e o desenvolvimento do pensamento jurídico romano.

A herança bíblica foi igualmente fundamental, transmitida pelos cristãos dos primeiros séculos, contendo os ensinamentos do Antigo Testamento, que influenciaram profundamente a sociedade medieval.

As bases da Europa foram estabelecidas em diversos estratos históricos. Primeiramente, durante o período das invasões bárbaras e a queda do Império Romano, entre os séculos IV e VII. Nos séculos VIII a X, a dinastia carolíngia consolidou-se, e por volta do ano 1000, uma Europa sonhada começou a emergir, seguida pelo feudalismo entre os séculos XI e XIII. Este período viu o surgimento de uma Europa radiante, com cidades florescentes, universidades, a escolástica, catedrais góticas e um dinamismo cultural sem precedentes.

A Idade Média foi um período de grandes mudanças, cujas repercussões se estendem até os dias atuais. Este período, que vai do século V ao XV, frequentemente possui uma reputação negativa devido a preconceitos históricos que a associam à barbárie, obscurantismo, intolerância, regressão econômica e científica, e desorganização política.

O termo "Idade Média" surgiu com uma conotação depreciativa, como uma era "menor" e "sem importância", em contraste com a era moderna. Os humanistas italianos da segunda metade do século XV foram os primeiros a usar esses termos de forma pejorativa, para enaltecer seu próprio tempo. No século XVIII, o Iluminismo popularizou ainda mais essa visão negativa, utilizando termos como "Idade Média" e "obscurantismo" para destacar sua oposição ao período medieval.

Em suma, a herança romana, grega e bíblica, juntamente com os desenvolvimentos da Idade Média, formaram a base da Europa moderna, influenciando profundamente sua cultura, língua, direito e estrutura social.

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